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almanaque de ironias menores

caderno de exercícios avulsos e breves, por serôdio d’o. & 3ás 

20.2.09


psych folk, vi

se naquilo que sou mais imediato, talvez autêntico,
sou verbal ou aconteço?, não sei. aqui não nos preocupamos
com o que é primeiro, preocupamo-nos estritamente
com o que é e que, por ser, corresponde ao que dizemos.
ou seja, preocupamo-nos com a macieira, se for a macieira;
preocupamo-nos com a flor da macieira, se for a flor
da macieira; preocupamo-nos com o bicho da maçã,
se for o bicho da maçã; preocupamo-nos com a maçã,
se for a maçã; preocupamo-nos com a tarte de maçã,
se for a tarte de maçã; preocupamo-nos com a sidra,
se for a sidra. não temos preocupações fora da autencidade,
não nos ocupamos de cuidados que são para além do que é
autêntico. é por isso que os nosso processos são demorados,
demorados realmente. são artesanais. s. d’o.

referência

18.2.09


psych folk, v

agora estou preparado, sinto que estou preparado.
uma constelação madura chameja. as ancas fechadas,
atiçadas, compreendem o sangue perfeito, prendem-no,
puxam-no. vou com ele, sinto que vou também com ele.
não compreendo a mecânica do que está a acontecer,
acompanho apenas o que acontece. disseram-me outros
o que pode acontecer a seguir. o mênstruo há-de chegar
ou atrasar-se ou não chegar.

a antropologia primeiro, a agonia depois. engulo
a água. estou enxuto, não transpiro. a palpitação,
o delírio, et cæteramente. no campo tudo é diferente.
as coisas acontecem. as raparigas, os rapazes,
as plantas, os animais acontecem. que seja visível,
aqui não há ambição para além do sentido de acontecer.

que outra ambição poderia ser imaginada neste lugar?,
talvez a frase perfeita, caída, caída simplesmente,
sem necessitar de leitura ou morte. s. d’o.

referência

16.2.09


psych folk, iv

eu cheiro a comida e como com as mãos. não dou
sangue, não cuspo no chão. o que é que adianta saber
que a infecção alastrou? metástases, foi o que disse
o terapeuta. já sofro o suficiente com a televisão,
onde as palavras são menos difíceis. estou a morrer,
é isso? o terapeuta não atende. continuo sem resposta.
e couves?, posso comer couves? ou fazem-me mal?

os dias aqui são cada vez mais manuais. s. d’o.

referência

6.2.09


psych folk, iii

foram os meus dias inteiros, os primeiros, em regime rústico,
como o pão de côdea dura, a ver o que os outros nunca viram,
as mulheres a regressarem da lama, a preferirem a acidez
da fruta, o aço a traçar-lhes os pulsos, a agulha a afundar-se
nos seus braços, ao lado do filho que carregavam ao colo,
e elas sem tempo ou gosto para beberem chá, às cinco da tarde
ou às cinco da manhã, como as madames fazem nos salões
elegantes do mundo.

quando passaram por mim, uma delas, a mais nova, disse
às outras - e eu ouvi - a sua sorte por ter um bandido
que olhava por si, que a acariciava e lhe batia de modo igual
às horas e nos dias conformes à vontade dele, dizendo-o
com a certeza de a violência lhe arrombar a carne, mas,
ao mesmo tempo, nela também assentar um conforto
e um afecto que não conseguia imaginar sem o bandido
ou se ele estivesse longe. posta em si, ela não se considerava
ou dizia mais puta do que a vida que a fazia assim, dada
ao bandido que também a amava.

no campo as coisas são mais simples, talvez platónicas. s. d’o.

referência

4.2.09


psych folk, ii

atenção: isto não é o lago dos cisnes. poderia ser, mas não é.

invejo o repouso dos sedimentos. acredito que a imunidade
aos males gerais chega pelo avesso da turbação. por isso fico
quieto a demora que posso, até a dormência atingir-me
os membros. depois levanto-me, saltito para desentorpecer
e dobro-me sobre o charco, até tocar-lhe com a ponta dos dedos,
abrindo elipses desalinhadas com a margem, que, depois,
se transformam em aros, como se, ao formarem-se os círculos,
a minha redenção tivesse sido pronunciada pelas linhas
de choque decorrentes do meu contacto com a água.

isto é estranho, bastante estranho, mais ainda porque acontece
em câmara lenta e suscita uma dúvida. os círculos que vejo
irradiam dos meus olhos? ou já lá estavam à espera
que os meus dedos os provocassem? s. d’o.

referência

2.2.09


psych folk, i

isto tudo é tão eterno que não sei por onde começar.
posso começar pelo princípio, o que é recomendável,
porque o princípio é importante em todas as coisas.
porém este é justamente o meu primeiro problema:
onde é que começa a eternidade?

estou quieto. sou uma máquina mutante, quero mudar o canal
da televisão, mas não quero levantar-me para o fazer.
sinto-me antigo. o telefone que há cá em casa é de disco.
ainda não foi reinventado o disco sound. lanço os dados,
lanço também os dardos. porquê? não há um alvo na parede.
tento esquecer tudo, tento sobretudo esquecer onde estou,
inscrevendo-me através do olhar no chão e na carpete.

continuo a querer mudar o canal da televisão. mantenho-me
sentado. a experiência da dissidência é uma experiência
de princípio, ouvi dizer. admito isto sem dificuldade.
e decido experimentar. começo a jogar num lugar vazio,
sendo que o lugar vazio que refiro não é uma metáfora,
é mesmo um lugar vazio. e lanço uma aposta: cinco
números, duas estrelas. conforme as regras, uso uma cruz
para preencher o boletim da aposta.

sinto que o chão é o meu corpo, as sete cruzes são os pontos
de sutura da minha alma. tento-a assim. e, para ser sincero,
agora, já não sei onde estou. estou sentado e posto num jogo,
isto eu sei, embora não saiba mais do que isto. o resultado
do sorteio vai ser anunciado entretanto na televisão. quero mudar
de canal, mas não quero levantar-me. temo que, se o fizer,
possa chegar tarde e, por iniciar outro tempo, influenciar
o resultado do jogo. já não sei onde estou, sei apenas que estou
e que onde estou não tenho tempo. face às probabilidades, sei
também que sete cruzes não são muitas cruzes. s. d’o.

referência

2004/2024 - serôdio d’o. & 3ás (escritos e subscritos por © sérgio faria).