29.4.09
horto das passagens
o corpo tem que ser jogado contra as coisas
e contra os nomes atribuídos às coisas, tem que ser
descoberto assim. o corpo tem que ser jogado
para a culpa, que faz o esquecimento das alfaias
com as quais a terra foi prenhe. o corpo tem que ser falido
pela força, sem resistência à forma, contra o ritmo
do tributo. o corpo tem que ser. o corpo tem que ser.
o corpo tem que ser. o corpo tem que ser. e depois?
depois dança ou morte. dança ou morte, reitere-se.
porque talvez a nossa sentença seja continuar a temporada
quando a morte já apela, porque o corpo tem que ser
e será. s. d’o.
3.4.09
plateau anatómico
um corpo incindível e só a força que o trespassa
e se assenta na designação. o absoluto.
depois há uma vaga que ergue o princípio das coisas,
o êxtase da anunciação. a narrativa continua então,
sem o começo límpido que as regras lhe aspiraram
e sem o baptismo geral dos inícios e das coisas.
agora a metáfora como metáfora estende-se, elide
a condição própria e, no mesmo movimento ou lance
de lâmina, encontra-se com o seu apagamento.
ilude a sua denúncia, faz o seu desaparecimento.
com isto fico sem saber onde estou. um corpo
inteiro. coloco-o na jura e apoio-o. recebo a notícia
da pulsação. sou dentro de uma casa que é dentro
de mim. o plano raso, o ângulo morto. duas
da manhã, três da manhã, quatro da manhã. continuo
a esperar, respiro nas pausas certas. improviso
o abismo, a ânsia. inclino-me para a queda. e o corpo
não parte, também não resiste, nada. s. d’o.
1.4.09
uma ambição final?, alcançar a escuridão que precede a luz,
concretizar o reconhecimento da indivisibilidade da composição,
da origem. s. d’o.
2004/2024 - serôdio d’o. & 3ás (escritos e subscritos por © sérgio faria).