boa noite. estávamos para nascer quando a tradição foi substituída
pelo improviso. encontrámo-nos e conversámos muitas vezes
sobre isso, o acontecimento do nosso nascimento, entretendo o cuidado
de não perder o tempo já passado. os medos vinham acompanhar-nos
com frequência, como se fossem novos. a apneia dos mortos, a infância
vaga outra vez, a melancolia que regressa com o final repetido das tardes
neste sul, onde as sombras cobiçam os corpos e os espectros em proporções
iguais, sem distinção de casos, matérias ou fronteira. agora a residência
está calada. as canções mais mortas ganham espaço às outras. o ambiente
é soturno, abafado duplamente, circunstância que está para além do verão.
soam gritos pequenos. não era o que estava previsto, o ruído dos detalhes
começados e a que não foi prestada atenção. a esta hora sente-se a região
das almas exausta. percebemos a dedução das ruínas. o território morno,
uma mão tensa, o desamparo, a lubrificação nos dedos, o estremecimento. s. d’o.