leopardo ferido na asa
no sonho americano não entram leopardos. no sonho europeu
também não. mas quem - o pronome é pessoal - vem lamber
os vasos sacrificais, é assim que o ritual é anunciado desde kafka,
são os leopardos. vêm pelas horas estrangeiras, pela escrita
fantasma, pelo que acontecerá. os leopardos continuam a vir
e a entrar, um leopardo ferido na asa à frente, os outros depois.
em dias de ácido, o manicómio parece um jardim, pétalas
caídas no chão, beatas fumegantes entre elas, uma paisagem
como se fosse sob um vulcão, a fuligem e a cinza debaixo dos pés,
a garrafa vazia. uma garrafa vazia é sinal para partir, vidros,
uma onda de calor que parece um vulto, um génio sem forma,
saído da fornalha. quantos desejos concederá? s. d’o.