onde estás?, ii
contacto, o dispositivo ínfimo que é o tacto, o sentido final,
o quinto. a língua é antes da mão, os sabores são antes
da pressão. a vida é menos interrompida pelas distâncias
entre a pele e as coisas do que pelos sons, pelos cheiros
ou pelas luminosidades. o tacto é o primeiro factor da presença
e do corte, a condição do que está e compreende, porém,
justamente por isso, é um sentido fraco. se pergunto onde
estás? - e pergunto muitas vezes -, faço-o pelo alcance que consigo
e porque sei que estás longe. não apalpo o espaço, a tua ausência,
sinto o vazio a afastar-nos, matéria e forma, mas é como se tocasse
em ti outra vez e tu não estivesses ou não quisesses estar aqui,
onde tenho as mãos. s. d’o.