o espírito
sofri uma infância com demasiado deus. toda a força da apresentação que faziam dele era estranha. a dificuldade que tive em reconhecê-lo tornou-se uma modalidade de auto-recriminação, uma culpa sobre as outras culpas que decorriam já daquela culpa. porém, com o tempo, para mim nada disto fez diferença. assumi a culpa de ser e de crer assim, reiterei-a. ri. não ter conhecido deus foi o acidente melhor da minha vida. sendo culpado sem culpa, ainda sinto a culpa a desvanecer-se, porque não há inocentes. através da demora aprendi a perder, percebi a estranheza que me compreende. sinto que a culpa que tenho não é em vão, é maior do que eu. a solidão acrescenta-me, cresço devagar. e, embora nunca tenha preferido a perfeição, a geometria leva-me a lugares diferentes. s. d’o.