nada para a noite
as etapas e as regras da habitação exigem respiração.
há muito tempo que habito esta casa e apalpo as paredes
para extrair delas a ocupação. separo-me assim, por dentro.
não lamento a cegueira por que me confesso, sei que não vejo,
simplesmente não vejo. para além disto, por não ver, para mim
o tempo tornou-se o mesmo, noite permanente e sem auxílio.
où va la lumière quand on l’éteint?, não formulo esta pergunta,
atalho para a condição de goethe. a respiração une-nos à morte
e cada um de nós ronda a distância entre tanto e quase, explora
a hipótese das paredes, a guarda que providenciam - neste caso
uma possibilidade como qualquer outra.
dizes há uma mancha acima, acima de quê?, acima de amo-te,
não consigo entender, como se fosse um vaso. janeiro começa
sempre em dezembro. é ainda a noite longa. s. d’o.