arrumação
acho que não posso mas posso. o regime é de premências,
de como as coisas são no tempo próprio das coisas.
para não variar, deserto da campanha, vou comer uma sandes
de leitão. tratar o corpo, primeiro, não alimentar ilusões,
ao mesmo tempo. o que é que isto interessa?, pouco, se algo
mais do que nada. na verdade ando a aprender a descobrir
a lealdade nas interrogações, nos problemas e nos traumas
que as interrogações combinam. não tenho ilusões, não
se trata de trocar quem seja o senhor presidente da câmara
municipal.
na cidade não ouço as pronúncias, não observo os remendos
da boca. sou lento porém na mesma urgência do músculo.
pertenço à tribo dos que demoram tudo, inclusive a febre,
o suor, o sémen. chamo um táxi, esta já não é a minha safra.
hei-de chegar tarde, mas hei-de chegar, é o que importa.
escrevo a medo, não com medo ou por medo, escrevo esta declaração
a medo. sei-a um modo de apelo, sem certeza. há muito tempo
que ando a tentar endurecer o miocárdio. nada mais desejo declarar
agora. s. d’o.