a necessidade de arrastão, de medir o que se perde, sim, é uma coincidência,
deve consultar-se mais vezes a secção de cutelaria. para quê?, para algo
diferente. já não basta assentar no inventário os amores pequenos, todos
perfeitos, sem osso, como se fossem uma espécie de restituição antecipada.
a incapacidade de sobreviver aos acidentes domésticos, de recuperar deles
o custo e a lição, transforma a memória em culpa. inflamação, febre.
a perda, ela infunde no corpo um peso semelhante à morte, e marcha-se
no mesmo sítio, ao ritmo dos gestos e das rotinas, da superstição também, agora
sem conteúdo, a vida perfunctória, mais animal é impossível. só mais tarde se percebe
o desabafo, a natureza é uma puta. o caso não é de moralidade, é de atalhos e detalhes.
são eles que ainda seguram a perda, que a decompõem devagar. não é uma amputação.
a cesura súbita, é a desintegração gradual, uma imagem.
a perda não pode ser óbvia. nunca saímos da infância. um envelope colocado sobre a mesa
de cabeceira. nenhuma confissão, nenhuma declaração. a servidão continua. s. d’o.