auto
culpa, culpa, culpa, calcinada, a voz como matéria, sedimento para amanho, os pulmões cheios disso mas encapsulados no peito, quando sobre a mesa está a natureza morta, uma amostra, tudo incompleto, sem correspondência, sem complemento, a morte à espreita, inteira como ela é. o perigo também, o perigo, alguém calou o perigo, talvez deus, talvez não, ninguém sabe quem, e agora o perigo acontece sem aviso, anónimo, ventríloquo do mesmo, o silêncio, como as mortes em cada morte. o perigo acontece como metamorfose pelo manuseamento, pela mão de obra, já não é o frio por onde chega o beijo, agora é sem perguntas, sem respostas. a explicação é simples, pode chamar-se-lhe o nome que tem, amor. é resolver uma vida, duas vidas, pelo menos, duas vidas, quantas forem, as que forem, do mesmo modo que me permito recordar o dia doze de maio de mil novecentos e cinquenta e sete, ainda sem o aparato das peregrinações actuais a fátima, o facto sucedeu em brooklyn, new york, no ebetts field, um estádio que já não existe, marilyn monroe a chutar uma bola de futebol, usava um vestido azul, turquesa talvez, as fotografias são antigas, antes de um jogo entre uma equipa norte-americana, all stars, e uma equipa israelita, o הפועל תל אביב. recordo também o anão e o polícia, ao lado de marilyn monroe, quase morta, faltavam cinco anos para ela morrer, morreu em mil novecentos e sessenta e dois, a cinco de agosto. e subitamente o amor pode ter sangue, tem uma instituição com que concorda. s. d’o.