acto décimo quarto
perguntas-me a correspondência, amas-me?, e eu afirmo-a,
sim, amo-te, para não desiludir-te. seria desagradável se fosse
sincero neste momento, em que partilho a cama e o corpo
contigo. seria desagradável, assim como seria cruel.
e eu também não quero ser cruel. custar-me-ia sê-lo.
por isso confirmo o amor que não tenho e não sinto
enquanto copulamos. há economia neste acto, um acto
de vocação, não de misericórdia. para ser sincero,
não quero perder este momento contigo, não quero
desperdiçar o orgasmo.
depois canto i don’t have a hawk in my heart para experimentar
o prolongamento da ilusão. s. d’o.
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i don’t have a hawk in my heart é um verso do refrão da canção «thirsty» (in sad songs for dirty lovers, brassland records, 2003), da banda the national.