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almanaque de ironias menores

caderno de exercícios avulsos e breves, por serôdio d’o. & 3ás 

4.9.09

“fortalecei-me com maçãs,
porque desfaleço de amor”.
*


jogo final

falta-me a coragem para ser vagabundo. posso culpar a grei
desta falta de coragem, falta que é minha. a grei vincula-me
a outros, faz-me dependente da alteridade e faz a alteridade
depender de mim, numa sucessão de compreensões cujo princípio
já não é possível compreender como foi. agora a compreensão depende
tanto da companhia quanto da solidão. alguém ainda pode ser nómada?

apesar da improbabilidade, a grei não existe. eu teria de ser nómada
através de outros e por causa deles, rota fatal.

julgo que já li a fome. foi numa segunda-feira ou terça-feira
ou quarta-feira ou sexta-feira, não leio ao sábado e ao domingo
e, porque é dia de mercado, à quinta-feira não leio a fome
como leio nos outros dias, pelo que, tendo lido a fome e não
sabendo em que dia sucedeu isso, li-a num dia que não sei qual,
mas que também não interessa saber, terá sido uma segunda-feira
ou terça-feira ou quarta-feira ou sexta-feira. a fome é um poema
clássico, não é um poema moderno. antigamente chamavam-lhe
veredicto, actualmente crêem que seja um estímulo e que o exercício
em ginásio é um ersatz somático dela. nenhum deus testemunhou
ou ofereceu a fome.

afirmo: um dia li a fome. depois o amor passou ao ataque,
combateu-me, combati-o, estanquei-o. o amor mata, o amor fere,
o amor morre. erro cravado, carne espetada, corpo incerto. um dia li
a fome e agora sou-a, capaz de amar e morrer, amado e morto,
vagabundo que não tenho coragem para ser. culpo os outros
que me culpam também. somos comunidade, não nos conhecemos.

deportado para um pomar de macieiras, hei-de ser alimentado
pelo fruto do bicho, da evidência e da culpa, conforme narrativa
do princípio. o princípio foi há muito tempo, poderíamos esquecê-lo
e, em comunhão, dedicar cuidado maior ao fim, para merecê-lo
íntegro, como merecemos o pó que haveremos ser e a casca do fruto
que palpamos e mordemos. por algum motivo, somos insistidos
no princípio irrevogável. nenhum alívio podemos, podemos apenas
escolher. escolho não cultivar o horto. li a fome, sei que li a fome.
e sei que no fim estará escrito game over e não haverá depois
ou mais amor para nos enfraquecer. s. d’o.
__________
* versos do versículo quinto, do capítulo segundo de cântico dos cânticos.


2004/2024 - serôdio d’o. & 3ás (escritos e subscritos por © sérgio faria).