the imperfect is our paradise *
a teoria do poema
as horas e os momentos que investes contra o tempo
fazem-te minha irmã de lâminas. a consequência da descoberta?,
o módulo, a transmissão do sufoco. somos modernos, irmã,
substância da vindima ancestral, geração sobre geração,
corpo de corpo, corpo de corpo de corpo. o que vejo?
uma mulher a espreitar para dentro da suspeita, a fendê-la,
como fruto. as manhãs são assim, metamorfose, encerramento
seminal. e um café.
mãe, és tu? sim, mãe, eu aponto o lugar que ocupo. mãe,
os velhos estão a passar, conduzidos para o copo com vinho
que os espera no manel do raul. passam lentamente, versos,
vultos dobrados, mãe. não vão para a igreja. eu vou com eles,
embora em passo atrasado. passo também. uma palavra orgânica,
em carne crua. custa-me o cheiro do vinho. sinto-o. a tragédia
da infância presente pela disposição, não pelas reminiscências.
o procedimento fragmentado da psicanálise, a unidade quotidiana.
uma rodada, pago eu. tento uma dobra, a aceitação. falho. eles bebem
o vinho à mesma. sinto que sinto, sinto muito. não sinto. os mortos
são para enterrar.
o cortejo fúnebre começa a desfilar. a infecção, ser assim,
fôlego de nada. ser assim a todas as horas, mó de moer-se
e a teoria disso. nenhuma preocupação poderá salvar-nos.
estou a aprender a ser órfão. s. d’o.
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* verso de “the poems of our climate”, de wallace stevens.