tecno finale
realismo humano. não entendo a expressão e o que significa,
parece-me um oxímoro. antigamente havia quem defendesse
que a reflexão resultava em ilustração e que a ilustração, pólvora
pura e prática, emancipava, permitindo às pessoas realizarem-se
e realizar o mundo consoante uma vontade melhor. uma vontade
melhor, esta é a colheita do horto, a última. entretanto, conta-se
sem pesar, a teoria crítica morreu. agora o que interessa a todos
e a cada um é a consciência de que habitam o menschenpark
e que podem decidir não sobre a própria condição e o que são,
mas sobre o que, por herança ou ultrapassagem, lhes sobrevirá
e estabelecerá a condição das condições novas. a vida continua
a atrasar-se. e esta, a realidade ser rectificada, é a esperança.
para ser sincero, interessam-me pouco as querelas deste teor.
estou a ler melville e poe. às vezes, por asseio ainda moderno
e a mesma ânsia, leio ginsberg. tento chegar longe, a outra margem
e a outro lugar do tempo. a minha américa é estranha e antiga.
estou aqui, numa língua presente, à distância da tradução.
e depois?, se depois. depois interessa-me a alta definição combinada
com a alta fidelidade, sob controlo remoto. domino o mundo, o modo
como se revela, sentado no sofá, trono para um corpo só, lugar que,
na sala, define a posição melhor diante do ecrã. show, o meu reino,
sou senhor sem alta finança. aqui, na minha mão, seguro, está o posto
de comando, o mesmo que ground control. as imagens e os sons
obedecem-me. não domino a emissão, domino a exibição. sou um deus
final, terminal.
como todos, há muito tempo que sei que o major tom é um junkie. s. d’o.