psych folk, ix
quebra ou cessa o corpo e no mesmo instante
evapora-se o espírito que havia nele, disse-me
o velho, porque as coisas telúricas são assim,
ligadas à terra, com a eternidade que a terra empresta
ao corpo e nenhuma mais. o que semeias, o que regas,
o que mondas, o que ceifas, o que colhes, tudo é em vão
no tempo longo da terra. chegas ao fim dos teus trabalhos
e a terra continua a não reconhecer-te. a terra engole-te
apenas para te entregar aos bichos e, depois, tu desfeito,
para alimentar-se de ti. meu rapaz, a terra não poupa gente,
usa-nos como uma mulher usa os cremes e a maquilhagem,
para sentir-se mais bonita. a terra não poupa gente,
come-a. por isso, o conselho que posso dar-te é este:
foge, rapaz, foge. não te iludas a ver as mulheres
que regressam da lama. elas são amantes da terra,
preparam os homens para ela, primeiro para o calvário,
depois para a sepultura. foge, rapaz, foge. foge
enquanto a tua demora aqui é breve, foge
enquanto restam esperança ou dúvida suficientes
em ti. a lama é a terra em virago. s. d’o.