24.12.08
que é esta febre que sinto.
é estranho que, após o encerramento do estabelecimento
chamado mundo, alguém se aproxime de mim, não para falar
comigo, mas para tocar-me no ombro e perscrutar os meus olhos,
o seu interior baço e húmido, como se procurasse aí o significado
da doença que sofro e que ninguém, nenhum médico, nenhuma equipa
clínica, conseguiu diagnosticar. será sobrevivência? s. d’o.
22.12.08
vivo morto. vou poupar-te aos detalhes
para não precipitar-te a feição das rugas.
lá de onde vens, há welfare state? e hot dogs?
e lou reed?, i like lou reed. e, indiferente,
como margaret atwood escreveu, tu dizes
coração, quieto, e ele, isso, obedece. s. d’o.
12.12.08
o coração é um animal de charco, confirmas sem deteres-te
na explicação ou no aval da afirmação. mais um problema
com o qual teremos que lidar, antes de resolver o mundo. s. d’o.
10.12.08
se, há alma?, perguntado assim, de chofre, não sei.
a pergunta é intimidante, exige filosofia e gramática
que não tenho, exige experiência que não sou capaz.
eu espero o apocalipse, limito-me a esperar contra
o que acontece. espero, continuo a esperar. s. d’o.
8.12.08
uníssono. uma boca que compreende o silêncio, que o trabalha,
que o esmera, que o espera enfim. outra boca que faz coro
com aquela, são já duas. e mais bocas, tantas, muitas bocas,
que compreendem o silêncio, que o fazem juntas, contribuindo
para a espiral que as une, única e a do silêncio, porque não há
silêncios. s. d’o.
2004/2024 - serôdio d’o. & 3ás (escritos e subscritos por © sérgio faria).