terra levantada e húmus
estendeu a mão devagar, até tocar a folha de papel. depois pegou o lápis que estava sobre a folha e escreveu a totalidade, a totalidade apenas, sublinhou com força a totalidade apenas, confere harmonia às coisas. depois pousou o lápis, recolheu discretamente a mão e afastou-se. agora, no meio da sala está uma folha de papel com um apontamento escrito a traço de grafite, justamente do lápis que está colocado ao lado da folha, e somente isso é visível. ao retirar a sua mão da cena ele pretendeu significar o trajecto entre totalidade e harmonia e ao mesmo tempo iludir a diferença entre motivo e consequência. sob a harmonia proporcionada pela totalidade há sempre algo escondido, não visível, que dispõe e ordena as coisas conforme um programa não necessariamente enunciado ou percebido. daí que as contradições e as ilusões sustentem e tornem suportável a vida. se se distingue, a plenitude distingue-se por ser a imaginação do mesmo num outro plano, o da harmonia sem apagamentos. o amor é outra coisa, da qual não deve falar-se neste momento. s. d’o.