o espectador
sei quem és, a vítima ágil e vulnerável, que tenta escapar.
olho-te em grande plano, para, como no cinema, compreender-te
melhor dentro da violência. não basta observar o teu corpo
a manobrar a esquiva. é necessário mais, verificar os pormenores,
que são os teus pormenores, é necessária a aproximação por zoom
aos detalhes da tua dor, porém mantendo o afastamento de espectador.
sei o teu destino, porque, já disse, és a vítima, o corpo convencionado
para sofrer. mesmo que quisesse, e não quero, não poderia ser diferente.
é isto o que implica saber o teu destino.
estou sentado. acompanho-te com o olhar. não sei se terás tempo
para atenderes à consciência do corpo. suspeito que a tua condição
furta-te essa hipótese. olho-te, em apreciação de testemunha.
o primeiro golpe, aquele que sofreste agora, não foi limpo.
era o que eu estava à espera. vou continuar sentado, a olhar-te. s. d’o.