as orquídeas
o roteiro era breve. atravessei o horto
sem me deter em pormenores. partilhei a palavra
contigo, a dois, numa solidariedade íntima,
sem mais testemunhas. tu disseste, eu disse,
sem a preocupação de dizer o que dissemos.
o branco das orquídeas era baço.
mais quase nada recordo dessa tarde.
o roteiro era breve. porém, repito,
mais quase nada recordo dessa tarde.
havia uma nespereira, havia uma macieira,
havia um pessegueiro, havia um limoeiro.
também havia uma mesa de pedra, sob a sombra
da nespereira.
aí, calando-me, quase me enganei.
era uma tarde, uma tarde apenas.
o sol caía maduro na frente, deixando
até si um rasto de tom torrado.
a noite, querias a noite, aquela noite,
recordo isso. mas, havia ainda a tarde,
não sei onde ficámos, se ficámos para a noite.
é por isso que, agora, porque não a acredito,
não digo a clareza nocturna daquele pomar.
repito, é porque não a acredito que não digo
a clareza nocturna daquele pomar.
o branco das orquídeas era baço. s. d’o.