senhora da noite
os lugares obedecem a uma carta de luz,
facto que faz da noite um dos exercícios
de descoberta do que está e do que nos acompanha.
na alquimia nocturna que conheço, há
uma forma branca, que vagueia alada,
como testemunha das armas comuns.
não é uma forma fantasma ou uma patrulha.
é apenas outra coisa, em espectro e volante,
que ao longo dos passos, repetindo-os,
aprendi a tratar por tu.
às vezes quase lhe digo sei que vagas
como um cometa claro, acima, entre
a matéria que faz a noite. sei que caminhas
como os anjos caminham, em plano, e pousas
em todos os telhados, os que guardam abastados
ou modestos. porém nunca lhe disse tais palavras.
percorro o caminho, ida e volta, em silêncio.
e, ao vê-la traçar a escuridão, sinto-a a prova
e a sombra da superioridade sobre tudo isto,
este lugar. s. d’o.