o chão que ela pisa e para além. em me and you and everyone we know, realizado por miranda july, um dos casos - o caso axial da narrativa cinematrográfica - começa pelos pés. porém apenas começa pelos pés. uma frase de richard, people think that foot pain is a fact of life, but life is actually better than that, opera verbalmente a deslocalização do plano de referência do caso, dos pés para a vida. mas o que é mais surpreendente neste filme não é o referido exercício de translacção. é, sim, a expressão da vida inscrita nos elementos como desejo, como impasse e esperança, como anseio. em algumas cenas essa inscrição é apresentada sob a forma escrita, enquanto mensagem gravada numa superfície. mas essa inscrição acontece em outros elementos também, como, por exemplo, a arca do enxoval da pequena sylvie. ou seja, através das diversas cenas vai sendo projectado o desejo e a sua força. provavelmente é richard quem verbaliza de modo mais expresso a tensão provocada por essa força, ao dizer i want to be swept off my feet, you know? i want my children to have magical powers. i am prepared for amazing things to happen. i can handle it. mas, porque é desejo, há sempre uma suspensão, uma dependência, algo que demora. em todas as personagens há a espera de algo, a espera de uma palavra, a espera de um contacto, a espera de uma presença, a espera de um tempo, a espera. 3.