(in)discreto
há, ele sente, uma contradição no corpo.
começa a condição como noite. o céu
parece morto ou pontilhado por uma luz velha.
a escuridão dá-se cálida e demorada.
dentro de casa, ele observa a correspondência
entre os elementos. a disposição do armário,
a louça no seu interior, os pratos e os copos,
o sal, o azeite, o mel, o açúcar, o café, o pão.
as portas do armário estão fechadas.
os cães deixaram de ladrar. uma outra vez
acontece o silêncio. em casa, todos os outros
dormem. e, naquele instante, ele sente que
o seu corpo não está na voz, ele pressente que
ninguém lhe testemunha o sangue. s. d’o.