certidão de óbito
dizer o corpo. dizê-lo até à exaustão,
dizê-lo até à extinção. dizê-lo até não ser
mais do que uma metáfora, com a qual
e pela qual a falência, por crédito,
promete-nos a morte. dizer o mesmo corpo,
o mesmo lençol. e morrer assim, dizendo-o,
com sossego, com burocracia. dizendo-o como
se fosse uma declaração para fins estatísticos
e não caixa de paixão. dizendo-o como
se fosse um detalhe e não a precisão decifrada
do fim, do que acabou.
dizer o corpo. acordar e continuar a dizê-lo.
dizê-lo como confronto eterno nos olhos, luz
sólida. dizê-lo para o vivificar. e morrer depois,
dito. o lençol é a mortalha. s. d’o.