naturezas
ao lado do pão, a fruta, que a lâmina espera.
o cântaro sobre a mesa, para encontrar os lábios.
o crucifixo na parede, adorno e amparo de almas.
as mãos a volver o cereal, enquanto as raparigas
fazem a roda. a terra áspera, gretada pelo sol.
a sombra sob as árvores. nenhum fruto caído.
as cantilenas soam. ouvem-se cigarras também.
a fome não se vê. a alegria é apenas uma cantiga.
mas há já quem olhe as raparigas e nos olhares trocados
não tenha tempo para sentir a privação.
porque, mesmo quando não há carne e é a fome,
é ainda a carne que sobressalta e dispõe à vida. s. d’o.