continuo à tua espera
vens vaga, por esta plataforma mediúnica, toda a noite,
a noite inteira, a ser a mesma voz, voz e brado,
canção e repetição, oração que não calo mais.
vens exacta e exactamente como te recordo,
memória e ressurreição no que dizes,
tão estranha quão perfeita, voz, a tua voz.
vens, vens sem caminho, como se viesses encontrar-me.
e eu aqui estou, à tua espera, como sempre te esperei,
aproximando-me de ti pelo silêncio e pela aguardente.
oiço-te porque não disponho da eternidade. demoro.
e, assim, chegas-me, sem corpo, canto apenas,
embalo de poema por lábios dormentes, espírito em dito,
dito em que acordo e concordo.
vens, regresso, para mim, como se a morte te devolvesse.
vens, vens ode, vens apoteose, vens sopro opiado,
vens como levada, volta que consigo testemunhar.
vens até que agora começa a ser manhã e eu, eu aqui,
continuo à tua espera e esperarei. s. d’o.