elouca
naquele quarto não havia deus, apenas
golpes de silêncio. não havia rumor
sonâmbulo ou qualquer outra instância.
as mãos eram-lhe o alcance da loucura
que a invadia. não demorou nelas a ilusão
da emancipação porque a amarram, mãos e
pés, à cama.
injectaram-lhe exterior. começou a alucinar,
a bordar a distorção da estrutura do quarto.
mostrou a língua, mas não gritou. no seu
rosto apareceu o esgar dos acossados.
imaginou-se a procurar búzios na montanha.
sentiu a culpa que não lhe acontecia. em si
a vontade de suicídio não adormecia. não
se evitou. procurou o que as mãos lhe traziam
e conduziam. reclamou-se. desejou fugir consigo,
sem a tutela dos que a diziam louca.
fingiu-se acordada. fingiu-se feliz. pelo
fingimento mais facilmente os vigilantes
acreditavam nela. foi por aí que ela se evadiu. s. d’o.