um homem perante o seu tempo
procurou a página centoesetentaeum,
marcou-a. feito isto, levantou-se.
afastou-se e olhou para o relógio
sobre o calendário, o calendário
sobre o atlas. a sobreposição
acontecia numa secretária que,
sobre o tampo, nada mais tinha.
lá fora a temperatura era morna. caía
a tarde.
caminhou até à varanda. queria fugir
daqueles agrimensores de tempo, o relógio,
o calendário, o atlas. todos os ritmos
presos, como numa carta de caligrafia
irrepreensível, pareciam vertê-lo
na loucura.
ninguém estava junto dele. mas ele falou.
quando morrer, digo-o agora, quero ir
para cima, não para baixo. desejo ser
cinza, mais breve, pó, largado. não quero
ser amortalhado e baixado ao sepulcro.
e permaneceu na varanda. sons trigueiros
vinham de longe. ouviu ainda o rugido
de uma fera. estava na hora. o circo
começava a ser desmantelado. s. d’o.