nas vésperas do verbo
o que era o modo, o único, fazia um património
de trevas, um véu de noite boreal, permanente.
era ainda o mesmo momento estendido a
eternidade, antes de o tempo existir,
contado.
o princípio não foi um flash.
as sombras foram enxotadas por
um jogo de asas forte, asas em negro,
varrendo um traço da escuridão
até o clarear e fazer um rasgo
branco. travada como fundo, nasceu
uma sombra bifurcada, circular.
duas províncias. a luz, aberta, ténue.
o lugar do princípio ainda não existia
havia apenas uma sequência concêntrica
de patamares, regra em fosso. no intervalo
entre os patamares, levantavam-se vapores
de enxofre. o cheiro era nauseabundo.
em todas as valas levedavam escamas de peixe,
penas, pústulas retiradas de feridas de carne,
entranhas e merda. o cocktail, na terra,
gerava uma febre fétida e flores cor azul navy.
ainda não havia limites naquele lugar.
nem loucura nem virtude. a primeira
fronteira foi construída sobre os uivos
de uma besta que repetidamente anunciava
o final das vésperas. o princípio
aconteceu depois.
depois da invenção do mapa
e do cronómetro foi possível
experimentar a luz. daí, talvez sábado,
nasceu o verbo. e começou a semana. s. d’o.