contrato
talvez fosse urgência, o contrato de
joão artur.
as vozes, em coral, exiladas numa
melodia nocturna. as fragas e os
medos. o movimento sem aparência
astral. sucediam-se os lotes de
instantaneidade, os estandartes
torturados, o sangue da paz. sucediam-se
no terraço da esplanada, sucediam-se no
escritório. no corpo dele também, o
domicílio de todos os lugares.
domicílio de todos os lugares. de tudo
isso quis fugir joão artur. e fugiu.
ausente, o que sou?, perguntou ele.
és senhor de ti, o teu próprio domínio,
respondeu-lhe a mais autorizada das vozes,
a voz do seu contratante. ouvido isto,
joão artur pegou numa caneta e, como último
parágrafo de uma folha, lavrou c’est le feu
que si relève avec son damné. era a
sensação de repetir henrique, mas sem
a hipótese de margarida, o resgate
do amor.
quando o pano caiu sobre a cena, a tragédia
não terminou. dela não era possível
a denúncia.
a denúncia. e continuou. cravada na mesma
carne. posta na mesma narrativa. s. d’o.
(“c’est le feu que si relève avec son damné” é a última frase de “nuit de l’enfer”, parcela de une saison en enfer, de rimbaud).