a mulher que dizia o nome do mundo
ela não parava de dizer o nome do mundo.
mundo, mundo, mundo, mundo, mundo...
pouco se sabia daquela mulher, excepto
que repetia incessantemente a mesma palavra,
mundo, mundo, mundo, mundo, mundo...
sem utilizar outros vocábulos, quaisquer
que fossem.
um dia, porém, ela deteve-se frente a uma vitrina
onde estava exposto um mapa e, olhando-o,
abrandou o ritmo em que dizia o nome do mundo.
mundo, mundo, mundo, mundo,.. mundo,
mundo, mundo, mundo, mundo...
o mundo parecia estar ali, todo, defronte dos seus
olhos e isso de algum modo perturbava-a.
abrandou ainda mais o ritmo em que dizia o
nome do mundo,
mundo, mundo, mundo, mundo,
mundo, mundo, mundo, mundo, mundo,
mundo, mundo, mundo...
até extinguir-se a sua voz. calou-se. chorou.
depois, procurando recompor-se, a mulher
desabafou, o que acrescenta ou diferencia
dizer continuamente a palavra mundo?,
se o que o confirma não é o seu nome,
mas o seu desenho. desde esse dia, ninguém
voltou a vê-la. tão pouco alguém tornou
a ouvi-la. a dizer o nome do mundo. ou qualquer
outra palavra que fosse. s. d’o.