das mãos
as mãos não se conhecem pelo que
mostram. conhecem-se pelo que
fizeram, se cicatrizes, se nada.
podem as mãos ser soberanas e
cair. também podem as mãos ensaiar
a obra e transportar os gestos.
porque nelas principia o mundo e
a ele a devolução do corpo.
são as mãos que rasgam o pão.
são as mãos que seguram e erguem
o cálice.
são as mãos o domicílio do acto
que vindima e faz o sangue e
faz a aliança.
são as mãos a ferramenta da massagem,
o radiador da paixão e da proximidade.
são as mãos a vida do moleiro,
do lenhador, do maestro e
do arquitecto.
são as mãos o primeiro chão de nós
e o único lugar onde é possível
encontrar a morte emprestada.
são as mãos que embalam e, com os
braços, aconchegam o sono.
são as mãos que tocam a face,
enxugam as lágrimas e fazem a bofetada.
são as mãos a margem e o horizonte
e nelas, quando encontro, o mundo
inteiro.
são as mãos que assinam e assassinam.
são as mãos que, como as mães, começam
e acabam.
são as mãos tudo. s. d’o.