a noite serve a espera
a noite serve a espera. suspendo os passos,
sento-me ali. guardo no escuro os pés
nus sobre o chão ainda cálido. vem o
perfume do mar, que, derramado, entra
em casa. arruma-se entre os outros
cheiros, entre os corpos, entre os
outros sons que vêm com a noite.
a noite oferece a espera e contagia. aguardo
com ela. olho o céu, na sua devolução
nocturna. percebo-lhe a forma enganada
de embrulho em que se suspende.
decido ficar. não me parece inquieta,
a noite. mas também não me entrega o
conforto da tua solidão. espero. espero
com a noite. espero por ti. velo por ti. e
pergunto (de) quem és?, quando dormes
sozinha. s. d'o.