café central
o sol, a sombra, a praça morta, já
junho. a velha sentada num banco,
com um xaile a cobrir os joelhos.
vejo-a pela vitrina do café, a aura
da solidão, o peso do tempo sobre
o corpo, nos ossos e na carne
engelhada das rugas. a velha, diante
dos meus olhos, é o futuro. e nele
vejo-me sem tempo, condenado,
a regressar para a fuga de que
não é possível sair. destino não
é o nome de um filme. é a
vida revelada.
faz falta uma esplana nesta
praça morta. se existisse,
talvez permitisse enganar-me. mas
o senhor presidente da câmara
municipal não gosta de enganos,
para poder enganar-se solto. s. d'o.